Muito utilizados tanto em contextos empresariais quanto em contextos pessoais em prol da constante busca por melhores resultados, o ciclo PDCA e a metodologia DMAIC são tidos hoje como as principais formas de pensamento estruturado em análises técnicas e sistêmicas para resolução de problemas-oportunidade. Porém, estas metodologias hoje dissipadas em inúmeras companhias e em todo o mundo não são recentes, e suas ideologias e princípios culturais têm muito a nos revelar, já que surgiram em diferentes cenários de atuação.
Neste artigo e no da próxima semana vou apresentar um pouco da história e características de ambos os métodos e do porquê de seus surgimentos. Muitas empresas possuem divergências em qual deles usar, PDCA ou DMAIC, porém devo salientar que as etapas se entrelaçam, já que são meios distintos buscando o mesmo fim: a melhoria contínua.
Um pouco de história
Lembram-se da produção massa? Então, tudo começou lá atrás, no início do século passado. A base do sistema fordista era o PDS (plan-do-see) de Taylor. Ou seja, você planejava a execução da necessidade, colocava em prática o planejamento realizado, e verificava se os resultados atingiram um nível satisfatório. Não havia ciclo, havia apenas passos sequenciais com início e fim. E olhe que isto, apesar de hoje em dia ser inaplicável era uma revolução e tanta na época apenas por conter a etapa Plan (planejar). O tradicional método DSA (do, see, act) ficou ultrapassado.
Pouco tempo depois, um engenheiro estatístico norte-americano chamado Walter Shewhart (1891-1967), que dedicou toda sua carreira em benefício de sistemas estruturados para tratativa de situações-problema e foi reconhecido como um dos primeiros gurus da qualidade pelos seus estudos sobre CEP (Controle Estatístico de Processos), deu origem a um novo PDS, só que desta vez, ininterrupto, agregando conceitos de prevenção e melhoria contínua, antes não difundidas por Taylor. Pode não parecer muito, mas imagine que, ao invés de apenas esperar pra ver (see) os problemas, você com esses resultados tenha mais informações para além de corrigi-los, se prevenir contra novos problemas. Isto foi um enorme progresso naqueles dias…
E com seu contínuo trabalho, ele chegou ao famoso PDCA, que só se tornou famoso mesmo com o estatístico norte-americano William Deming (1900-1993) e seu trabalho mundialmente reconhecido em melhoria de processos nos EUA durante a 2ª guerra mundial e principalmente no Japão pós-guerra.
De lá pra cá, surgiram outros métodos derivados do PDCA, com várias inclusões e remoções de outras etapas, inclusive para desenvolvimento de novos produtos, porém em resumo o ciclo PDCA demonstrou-se robusto. Hoje, são principalmente famosas suas duas abordagens: o SDCA e o MASP. O SDCA (standardize, do, check and act ou padronize, faça, avalie e aja) é usado para manter o controle da melhoria efetuada com a MASP (Método de análise e solução de problemas), que conta com 8 etapas que veremos mais na próxima semana.
E o surgimento do DMAIC, ele teve alguma relação com o PDCA?
Praticamente nenhuma. Perto da década de 80, o mercado norte-americano vinha sofrendo variações de consumo com a concorrência vinda do exterior. A Europa ocidental já dominava os princípios da produção em massa e com suas filiais espalhadas pelos EUA a concorrência e a necessidade de ser mais competitivo começou a emergir. Este foi o mesmo período em que filiais japonesas lideradas pela Toyota e Honda começaram a ganhar fatias extraordinárias no mercado norte-americano com seu sistema de produção enxuta. Consequência? A competitividade e a necessidade de melhorias vieram à tona.
Em meio a este cenário, no início dos anos 80, Bob Galvin (1922-2011), CEO da Motorola na época, em resposta as constantes reclamações de clientes aos produtos da empresa despertou no colaborador engenheiro sênior e cientista Bill Smith (1929-1993) a necessidade de levar a empresa para um novo patamar, através de uma nova filosofia que mais tarde, em 1984, chamaram de Six Sigma. Motivo? A Qualidade Total de Deming e Joseph Juran (1904-2008) já não era mais suficiente. Era necessário algo mais, algo melhor…
Um ano depois, outro engenheiro ingressava para trabalhar com Bill, Mikel Harry, que na época participava do programa de doutorado na universidade estadual do Arizona, buscando encontrar melhores formas lógicas para solução de problemas tendo como base os estudos de variação de processos de Deming. O método inicial proposto pela equipe? MAIC (measure-analyse-improve-control). Porém não durou muito tempo para que a etapa D (define) fosse adicionada, gerando a metodologia lógica para solução de problemas mais dissipada atualmente: o DMAIC.
Com a Qualidade Seis Sigma, a Motorola tornou-se mundialmente reconhecida como líder em qualidade com o lançamento do Six Sigma Quality Program (Programa da Qualidade Seis Sigma) em 1987, que levou a premiação do Malcolm Baldrige National Quality Award (Prêmio Nacional da Qualidade Malcolm Baldrige) em 1988. A difusão da filosofia tornou-se ainda maior com os resultados divulgados em 1999 pelo então CEO da General Electric, Jack Welch, que anunciava expressivos resultados financeiros obtidos pela empresa da ordem de 1,5 bilhão de dólares.
Hoje em dia…
Há poucos anos já neste século XXI, o Seis Sigma adotou as ferramentas e práticas da produção Lean em seus programas, nascendo assim a filosofia mais inovadora atualmente: o Lean Seis Sigma. Nesta nova abordagem de gestão, foi comprovado na prática que processos simplificados podem produzir com alta qualidade. Neste período, o ciclo PDCA e a metodologia DMAIC, ambos aplicáveis em projetos Lean Seis Sigma, foram postos lado a lado, e chegou-se à conclusão de que há total relação entre os dois métodos já que, apesar de terem meios distintos, ambos buscam a melhoria contínua.
No próximo artigo, vou apresentar características das duas metodologias: PDCA e DMAIC.
Até lá.
Vinícius Silva (br.linkedin.com/in/engviniciussilva)