Tenho falado ultimamente muito sobre OEE, não porque acredite imprescindível que se faça a gestão da produção com esse índice, mas porque me parece a melhor forma de fazê-lo (por que não usar uma ênclise em tempos de mesóclise?). Porém existe uma questão que surge quando se encontra mergulhado em problemas, em tempos “bicudos” como os atuais.
Controlar ou não controlar a produção se a demanda está (muito) abaixo da capacidade de produção?
O Azevedo (um leitor desse blog) fez um comentário e lançou um tema para discussão que apresento a seguir. Essa é a melhor forma de melhorarmos: debatendo ideias. Vamos ao que ele disse:
“Olá,
Vi e li atentamente este artigo (ele se refere a esse artigo) e subscrevo plenamente o que aqui está dito.
O OEE deve medir sempre e sempre a eficiência global das nossas máquinas ou determinada máquina, para estudos mais exaustivos.
Agora lanço aqui um pequeno tema de discussão sobre este indicador:
O quanto fiável é fazermos esta recolha de dados, quando, por exemplo com a crise que assombra algumas empresas, temos máquinas e/ou linhas de produção que ficam paradas 6 semanas e trabalham 1 semana? (e assim sucessivamente nos próximos meses).
A inatividade é enorme, quando comparado com o tempo real de produção.
Que conclusões podemos tirar do indicador OEE?
Abraço
Azevedo”
Acho essa questão importante afinal, como eu já disse em outros artigos, teremos que saber gerenciar na realidade que está apresentada e aí vem a questão: quando é importante ter o controle da situação?
Sempre.
Com toda vênia (usando mais uma palavra comum aos tempos atuais) ao Azevedo o OEE indica a produtividade durante o período que foi planejado. As outras 6 semanas (no exemplo do Azevedo) são semanas não planejadas e portanto não existe cálculo do OEE.
Mas espera um pouco. A maior crise que a indústria já passou e vamos controlar a produtividade de 1 semana e simplesmente não controlar outras 6 semanas, isso faz sentido?
Não, não faz sentido.
Uai (esse sou eu mesmo falando), agora eu não entendi nada.
Vamos lá. O OEE tem foco na produtividade da máquina (ou da planta em último caso), se não se planejou produzir nada qual a produtividade? É zero? Claro que não. É o mesmo que perguntar: qual a eficiência, neste momento, do seu carro parado na garagem? Se você não programou o uso do carro ele não está consumindo nada, nem se movimentando e portanto não faz sentido falar em eficiência nesse momento.
Mas um carro parado ou uma máquina tem uma eficiência, ou produtividade, com base no histórico, ou seja, com base em dados do passado. Aí vem a questão. Se o mercado só absorve 1/6 da máquina significa que não devemos tentar obter a maior eficiência possível? Ou ainda, mesmo que seu carro fique parado, você não quer que ele seja eficiente quando for usá-lo?
Temos uma questão financeira importante nessa análise. Se a máquina (ou o carro) estão parados eles geram prejuízo e vem a pergunta: vale a pena?. A melhor resposta não está na análise do OEE para essa situação. Acho que concordamos que máquina e operador devem possuir a máxima produtividade possível, porém o que temos é uma questão de quem puxa a produção. E aí está o problema, as indústrias não são puxadas, são empurradas. Quando a demanda caí muito, como é o caso agora, não existe planejamento para tempo ocioso. O que fazer com a máquina? Não seria o caso de terceirizar esse trabalho? Ou talvez oferecer horas da máquina para o mercado? Em suma, qual a melhor forma de não deixar a máquina parada? É claro que isso dá trabalho, mas só uma produção puxada poderá atravessar com menos turbulências as crises e ainda obter alto lucro em tempos de “vacas gordas”.
É por isso que defendo sempre que posso as práticas de lean manufacturing. Eficiência. Produção enxuta e puxada. Isso vale para qualquer época, para qualquer situação. Crises vão e vem. Em alguns anos sairemos dessa crise, e outra virá. A forma de uma empresa atravessar esse sobe e desce é saber que a realidade é assim. Mesmo em tempos bons, empresas terão problemas, assim como outras crescem na crise. É uma busca constante e uma melhoria contínua.
Mãos a obra.
Olá muito bom artigo e também excelente indagação do Sr. Azevedo, presto assessoria no chão de fábrica, e enfrentamos a mesma situação, existem máquinas paradas, porém noto que alguns setores trabalham mais “devagar”, pois não tem pedidos, é aí que entro com força no OEE, mostrando que neste momento devemos trabalhar de maneira a elevar o índice de OEE para quando a produção aumentar, estarmos preparados para enfrentá-la e entregar os produtos sem “correrias e atropelos”.
Olá, Caique. Muito legal mesmo artigo. Vejo em algumas empresas a necessidade de acelerar a produção mesmo em tempos de baixa demanda, porém sem reduzir jornada de trabalho / turnos. Isso acaba gerando um aumento muito grande no estoque, um desembolso desnecessário com compras de matéria-prima e insumos, apenas para produzir aproveitando o parque fabril.
Implantamos o OEE aqui na empresa, e em algum tempo, conseguimos reduzir um turno de produção, transformando 18% a mais do que transformava em 2 turnos. Ou seja, antes a empresa tinha uma visão de produção acelerada, e chegávamos a colocar cerca de 100TON / mês em estoque, sem necessidade. Hoje temos um OEE de 96% no turno, e quando há um aumento de demanda, apenas utilizamos as horas disponíveis que temos no parque, pagando uma ou outra hora extra.
Olá, tudo bom? Fico muito satisfeito quando vejo um depoimento como o seu. Muitos veem o que você coloca como redução do emprego. Na realidade é garantia de emprego de que já está empregado. Parabéns pela iniciativa.
Abraços,
Caique.