A produtividade é o problema (ou solução, depende do ponto de vista) do crescimento da produção industrial no Brasil. Esse blog já tem mais de 5 anos e mais de 300 artigos e o primeiro artigo em junho 2012 foi justamente falando de produtividade. Já toquei nesse assunto outras vezes, mas ainda tem muito o que falar porque tem muito o que melhorar quando se trata da produtividade industrial no Brasil.
Para encerrar o ano vou apresentar um terceiro artigo do Torbjørn H. Netland de março deste ano falando de 5 regras para a melhoria da produtividade. Acho importante saber o que a industria mundial esta falando, e principalmente fazendo, em relação a aumento (ou melhoria como diz Netland) da produtividade. Você verá que os problemas e as soluções valem para as indústrias brasileiras.
O artigo do Netland foi baseado em uma apresentação que ele fez no ETH Zurich deste ano e no artigo original (que você encontra o link no fim deste artigo) existe um vídeo da apresentação que eu sugiro que você assista. Está em inglês, mas mesmo que você não seja fluente acredito que dê para entender. A apresentação de fato se inicia em 7 min 30 seg. Vamos ao artigo do Netland então, feliz 2018.
Se eu pudesse resumir minha pesquisa em duas palavras, eu diria “melhorar (aumentar) a produtividade”. Esse também foi o título da minha conferência inaugural no ETH Zurich. Na palestra, mostrei cinco regras de melhoria da produtividade, que eu apresento nesta publicação.
Produtividade Importa
A importância da produtividade para nossa riqueza e prosperidade é bem capturada pela famosa citação do Prêmio Nobel de economia Paul Krugman:
“A produtividade não é tudo, mas, a longo prazo, é quase tudo. A capacidade de um país de melhorar seu padrão de vida ao longo do tempo depende quase inteiramente de sua capacidade de aumentar sua produção por trabalhador.”
A citação de Krugman defende que a produtividade é a proporção de produção por trabalhador. Isso é um erro, esta definição reduz a produtividade para uma medida de eficácia (X por Y), pressupondo (ou, pior, ignorando) a eficiência(mais fatores deve ser considerados). Se mantivermos a entrada de recursos e a constante de tempo, ele sugere que um processo que produz duas unidades seja duas vezes mais produtivo do que um processo que produz uma unidade. No entanto, se o mercado só precisa de uma das unidades, esta conclusão é claramente absurda. Para entender a produtividade, devemos relacioná-la com a demanda. (Resumindo, não adianta produzir se não existe comprador, muita produção para nada, ou seja, baixa produtividade, segundo Netland).
As 5 regras de melhoria (aumento) da produtividade
Com base na rica literatura sobre produtividade* e na minha própria pesquisa e observações, criei cinco regras universais de melhoria da produtividade. Além disso, quando nos preparamos para o futuro – e o que foi chamado de quarta revolução industrial – sugiro que eles sustentem e orientem a aplicação de novas tecnologias. Aqui estão eles:
Regra 1. Entregar Valor para o Cliente
Primeiro e muitas vezes incompreendido, faça as coisas corretas (com qualidade) antes de fazer as coisas serem certas (corrigir o que esta errado, esse trocadilho fica bem melhor e mais fácil em inglês: do the right things before doing the things right! ). A eficácia vem antes da eficiência. Isto significa começar com um foco na criação de valor para o cliente. Outra palavra que capta essa noção é, na minha opinião, a boa “qualidade” antiga, no sentido amplo da palavra. A qualidade pode ser definida como a estar 100% de acordo com os requisitos do cliente.
Regra 2. Controle os Processos
Não sobrecarregue processos, equipamentos ou pessoas. Reduzir “muri”**, como eles dizem na Toyota. A teoria da fila dá uma prova matemática de que, quando a utilização se aproxima de 100%, o caos cresce exponencialmente. Se a chave do primeiro princípio é a qualidade, a chave para este princípio é um profundo respeito pelos seus recursos – em primeiro lugar, o respeito pelas pessoas. A tecnologia é um ótimo meio para controlar os processos. Digitalização e automação estão aqui para ajudar, mas certifique-se de que suas práticas de manutenção são robustas. Uma boa dica é começar com nos gargalos das suas operações.
Regra 3. Sincronize os Processos como um Sistema
A terceira regra é sincronizar processos. Requer uma perspectiva de sistema. Sabemos que essa variação (“mura”**) é um dos maiores inimigos da produtividade e a sua redução deve ser perseguida. No entanto, devemos diferenciar entre variações estratégicas das disfuncionais. É apenas a variante disfuncional que deve se deve perseguir a eliminação. A variação estratégica nos dá vantagem competitiva e deve ser mantida ou cultivada. Muitas técnicas práticas ajudam a sincronizar os processos, incluindo linhas de montagem, padronização, modularização, produção de time-paced e logística just-in-time, para mencionar alguns.
Regra 4. Reduzir o Tempo de Transferência
Para a produtividade, o fluxo rápido é um ideal, mas não a custas de nenhuma das três primeiras regras! Uma boa maneira de reduzir o tempo de produção e os prazos de entrega é reduzir as atividades de não agregam valor dentro dos processos e entre os mesmos, os chamados resíduos (“muda”**).
Regra 5. Melhoria Contínua
Há duas boas razões para buscar uma melhoria contínua. Primeiro, porque os sistemas nunca ficam perfeitos, sempre há espaço para aumentar a produtividade em seus processos. Em segundo lugar, o ambiente externo está em constante mudança. As melhorias variam desde a melhoria incremental dos processos (exploração) até inovações tecnológicas e organizacionais mais radicais (exploração). Construir uma organização de aprendizagem, capaz de aprender e experimentar, é a maneira mais segura de sustentar e melhorar a produtividade a longo prazo.
*Você encontra uma lista de sugestões sobre literatura (em inglês) a respeito do tema no artigo original. Esse artigo foi baseado no original de Torbjørn H. Netland com o título “Five rules of productivity improvement” e o você pode ler o texto no original clicando aqui.
** Você aprender mais sobre Mura, Muri e Muda no artigo que escrevi clicando aqui.