“Alice perguntou: Gato Cheshire… pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?
Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato.
Eu não sei para onde ir! – disse Alice.
Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.”
Alice no País das Maravilhas
Lewis Carroll
A Alice não podia saber mesmo para onde ir, afinal aquilo tudo não era real. Mas as mulheres tem um instinto de sobrevivência bem apurado. Uma das causas das mulheres viverem, em media, mais que os homens é porque elas vão com mais frequência ao médico. Para as mulheres visitar o médico e fazer exames é uma coisa muito mais simples do que para os homens. Os homens tem medo de, ao fazer um exame, descobrir que tem alguma doença séria. Mas essa é a ideia, esse é justamente o fato que aumenta em até 7 anos o tempo de vida médio das mulheres em relação aos homens. Ao descobrir uma doença no início o tratamento é muito mais fácil e mesmo sabendo disso os homens não gostam de fazer exames periódicos. Porque?
Talvez por se imaginar infalível? Por que é mais forte que a mulher? Ou será medo da realidade?
A vontade de fugir da vida real tem feito o homem buscar soluções ao longo da história. Drogas, álcool, religião, psicologia (em alguns casos até o suicídio) são considerados, por especialistas, como exemplos da dificuldade de viver a vida como ela é.
- Ei, espera aí!! Esse não é um blog de assuntos comportamentais!! Onde você quer chegar?
Calma, eu explico.
Ainda não inventaram forma melhor de gestão da produção do que ter dados reais do que está acontecendo no chão de fábrica com os produtos e os operadores. Tanto melhor se os dados reais forem apresentados em tempo real. Essas informações dia após dia permitem melhorar continuamente, sem pressão. Quando antes for detectado algum problema, mais rápido ele será eliminado e fazendo isso todo dia, com o passar do tempo, se torna natural a tão famosa “melhoria contínua”, sem atropelos, sem discussões, a melhoria passa a ser orgânica, mais natural. O mesmo ocorre com doenças que se descobrem no início, após o impacto inicial o tratamento é mais simples, a qualidade de vida pós tratamento é melhor e a sobrevida aumenta muito.
Porém da mesma forma que a gestão da saúde da medo a gestão da produção também. Saber que o que se está fazendo está errado e que outras pessoas vão saber traz uma paralisia.
“Deixa como está para ver como fica”.
A gente sabe como fica, fica pior a cada dia.
A gestão da produção, bem feita, só pode acontecer com informações reais (aliás qualquer gestão, mas vamos focar). É humanamente impossível tomar decisões sem saber os problemas que estão ocorrendo. E no caso do chão de fábrica a decisão tem que ser em tempo real, é uma característica dos problemas que ocorrem na produção terem de ser resolvidos quando acontecem. Não adianta dizer: “a previsão é de chuvas torrenciais ontem”.
Só que para isso é necessário encarar a realidade. Os problemas estão lá, vivos, o fato de não saber que eles existem não faz com que eles não existam. A questão é não ter compromisso com o erro. Errar faz parte do jogo, a questão é saber logo que está errado e gerar novas estratégias. Quando isso acontece fica natural, fica normal cometer erros, porque fica normal e natural cometer acertos, afinal temos como medir se as coisas estão melhorando ou piorando, sabemos a verdade das coisas reais.
Concluindo, a gente pode tentar ignorar a realidade mas o mundo real vai estar sempre lá fora ou lá dentro, no chão de fábrica.