Eu tenho uma vaca chamada Brasil, de primeira linha, campeã. Quer dizer com potencial para ser campeã, com potencial para ser de primeira linha. Quando eu comprei essa vaca contratei um tratador jovem, cheio de idéias, muito bom, pelo menos é o que todo mundo dizia. Depois de 2 anos descobri que ele estava roubando toda a produção de leite. Demiti o cara na hora e contratei um senhor, meio caipira para cuidar da Brasil. Gente boa, tinha um topete meio esquisito mas parecia que gostava da Brasil.
Ele me ajudou muito, fez um novo plano, bem real, mas queria fazer outras coisas e me indicou um outro tratador. Esse ajudou no plano e já era mais velho que o primeiro. Muito educado, falava francês, professor na Sorbonne, coisa fina. Não entendia muito de vaca mas ficou um bom tempo cuidando da Brasil, achei que tudo iria melhorar para a Brasil, umas coisas melhoram outras não.
Ai contratei um cara que parecia ser a solução. Experiente (fazia uns 20 anos que ele queria ser o tratador mas eu ficava com um pé atras), um sujeito que veio do povão, das massas. Disse que entendia tudo de vaca e que nunca na história da Brasil ela teria um tratador melhor. Nessa época eu comecei a notar que o número de carrapatos na Brasil começou a aumentar, a Brasil sempre teve carrapato, pouco carrapato (ou será que tinha muito e eu não via?)mas sempre teve. Com esse novo tratador a quantidade carrapatos aumentou muito, logo nos primeiros dias, não entendi direito, parecia que esse cara ia justamente acabar com os carrapatos da Brasil. Que nada.
Mas o pior estava para acontecer, uns amigos desse novo tratador resolveram fazer churrasco com um pedaço da Brasil, um bom pedaço. E eles arrancaram um naco dela. Quando descobri fiquei louco, queria chamar a polícia, eu esbravejei com os caras: “Como assim? Vocês tão louco? A vaca tá viva”. O tratador pediu desculpa, disse que não sabia de nada. Eu queria que fosse todo mundo para a cadeia mas aí o tratador antigo (o que falava francês) falou para eu ter calma, que eu esperasse um pouco que ele ia me arrumar um novo tratador, honesto, gente boa (conheci o sujeito, tinha cara de bobo, sem sal). Era para eu esperar que o tratador não ia aguentar a pressão e ia sair de qualquer jeito, era uma questão de tempo e que além do mais a Brasil estava produzindo, pouco mas estava. Segui o conselho e fiquei quieto mas a polícia foi atrás dos caras que assaram um pedaço da Brasil. Tadinha dela.
A coisa não funcionou como o cara da Sorbonne previu, o tratador ficou e aí os carrapatos infestaram de vez a Brasil, a produção começou a cair e eu não sabia mais o que fazer. Eu tinha que trocar de tratador e esse cara (o tratador que me ferrou) ainda me convenceu que uma mulher, uma tratadora seria melhor. Pensei, é verdade, mulher tem mais jeito, é mais delicada, mais carinhosa. De novo eu estava enganado, a nova tratadora não deu conta do recado e a infestação alastrou de vez. A produção interna bruta de leite da Brasil praticamente acabou, a Brasil secou, não dava nem para o consumo da família, nem meu caçula tinha mais leite para beber.
Dia desses fiquei sabendo que os caras que assaram um pedaço da Brasil viva conseguiram contratar uns advogados excelentes, não sei onde esses pés-rapado conseguiram dinheiro para pagar. E os advogados conseguiram convencer o delegado que tinha um problema, um pessoal conhecido como infrin gente envolvido no crime (nunca ouvi falar dessa gente). E que vão ficar livres até se saber quem é essa gente aí. Os caras tiraram um pedaço da Brasil e vão ficar livres, essa eu não entendi.
A Brasil, coitada, tá mal. Não produz mais, fica triste o dia inteiro, olhando para lugar nenhum. E eu já não sei mais o que fazer.
Alguém tem carrapaticida aí?
[…] Eu tenho uma vaca chamada Brasil […]