No artigo da semana passada apresentei um pouco da história de ambos as metodologias e do porquê de seus surgimentos. Caso você queira entender suas principais diferenças culturais, clique aqui para ler o artigo. Hoje, na segunda e última parte, falarei sobre as peculiaridades entre o ciclo PDCA e a metodologia DMAIC. Colocarei suas etapas lado a lado para debatermos suas relações; explicarei o que é feito em cada fase; e darei algumas recomendações pra uso.

Mas e aí, há diferença entre eles?

Sim, há.

Antes de começarmos expor os métodos, ao ler o artigo anterior você entendeu que eles nasceram em contextos culturais diferentes, lembra? Enquanto que o DMAIC surgiu embasado na filosofia do Seis Sigma, o PDCA cresceu junto com a Qualidade Total e tornou-se forte com companhias que adotavam o Lean. Ao fundirem suas abordagens de gestão surgiu então o termo Lean Seis Sigma. E consequentemente, foram tentar fazer o mesmo com os métodos. Resultado?

A Metodologia de Análise e Solução de Problemas (MASP) é o método utilizado pelo PDCA para melhorias. Muitas companhias seguem seus 8 passos do MASP chamando costumeiramente a ferramenta de PDCA, mas na realidade é a Metodologia (MASP) do PDCA que está sendo usado.

Para exemplificar um pouquinho…

Pense da seguinte forma: você, na sua empresa, implementou a MASP e conquistou melhores resultados em seu processo, ou seja, você teve êxito na aplicação da ferramenta. Porém, não basta apenas alcançar este novo patamar, é preciso também mantê-lo. E é pra isso que usamos o SDCA. O “s” de standardize, em português Padronizar, objetiva amparar a meta padrão. E como ele consegue isso? Com POPs (Procedimento Operacional Padrão), as instruções de trabalho.

A intenção é: ao se atingir um objetivo não perder esse conquista então após a conquista padroniza-se o que foi definido através das instruções de trabalho, definindo que “esse é o jeito certo de fazer a coisa certa na nossa empresa”.

E o DMAIC, tem isso? Implicitamente sim, na própria fase Controlar o Processo. Só que existem algumas discretas diferenças… Por exemplo, o DMAIC deixa bem explícito que POPs geralmente não são suficientes para sustentar a melhoria. Podem ser aplicáveis também na maioria das vezes dispositivos Poka-Yoke e cartas de controle em conjunto com CEP (Controle Estatístico de Processos) em etapas críticas dentro do próprio processo, seja ele produtivo ou administrativo.

Explanaremos mais sobre estas duas ferramentas em próximos artigos, mas basicamente o que você precisa saber é: Poka-Yoke é uma ferramenta derivada do Lean para detectar ou prevenir problemas no processo. E o CEP? O CEP é uma ferramenta estatística adotada desde os primórdios do Seis Sigma que foca na prevenção de problemas, não a sua correção, ou seja, através de cartas de controle o(s) operador(es) devem conseguir tomar ações que previnam o surgimento de qualquer não conformidade. Mas por enquanto fica pras próximas…

Agora, vamos aos métodos…

Na tabela anterior você pôde visualizar que as 3 primeiras etapas do MASP e DMAIC são praticamente iguais, certo? Errado. Os objetivos são os mesmos, mas existem muitas diferenças nos detalhes. Vamos a elas…

No primeiro passo (identificar/ definir), ambos possuem necessidade de emitirem claramente o escopo do projeto. Porém, o DMAIC conta com mais algumas coisinhas, como a VOC (Voz do Cliente) e o plano de comunicação, por exemplo. Aí você pergunta: mas estas ferramentas também não podem ser usadas na MASP? Lógico que sim, mas surgiram com o DMAIC, entendeu?

E o que é VOC e Plano de Comunicação? A VOC objetiva basicamente tornar precisa e exata a necessidade e o desejo do cliente, seja ela externo ou não. Ou seja, não adianta sabermos que o cliente está insatisfeito, precisamos saber o motivo da insatisfação, onde foi gerado este motivo e qual a causa dele no processo. Já o plano de comunicação objetiva atribuir funções e responsabilidades aos integrantes do projeto, além de planejar os eventos de lançamento e divulgação dos resultados e da equipe. Sobre estas ferramentas, falaremos também em próximos artigos.

No segundo passo (observar/ mensurar), ambos possuem a necessidade de desenvolver um plano de coleta e medição de dados. Porém, e de novo, o DMAIC conta com uma ferramenta estatística chamada MSA (Análise do Sistema de Medição) que busca validar tanto o processo de medição quanto o processo de coleta dos dados utilizados no projeto. Em resumo, esta ferramenta busca identificar se os dados levantados são verídicos e realmente revelam qual é a performance do processo ao longo do tempo.

E o OEE? O OEE, principalmente nestes dois primeiros passos, pode ser encarado como um notável fator de vantagem competitiva porque se aplicado corretamente, ou seja, de forma confiável, metade do tempo (e trabalho) gasto nestas duas primeiras etapas você já economiza, simplesmente por suas métricas revelarem as informações corretas que vão te ajudar a seguir o melhor caminho para encontrar as soluções em seu projeto.

No terceiro passo (analisar/ analisar), ambos também buscam o mesmo fim: encontrar e analisar as causas dos principais problemas identificados na etapa anterior. Enquanto que a MASP conta com as usuais ferramentas da qualidade, o DMAIC conta com um gigantesco arsenal de ferramentas analíticas. Um tradicional? O Boxplot, ou gráficos de caixa, usados para revelar as características mais relevantes da distribuição dos dados, permitindo fáceis comparações entre diferentes turnos, equipes e períodos de tempo de trabalho, por exemplo.

No quarto passo (elaborar e executar/ implementar), a MASP sugere costumeiramente o uso do 5W2H, enquanto que o DMAIC o FMEA (Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos). Note que o DMAIC encara a elaboração do plano de ação como parte integrante de uma mesma etapa. Inúmeras outras ferramentas também podem ser usadas nesta fase, como por exemplo: Diagrama de Afinidades, Matriz de Priorização, DOE (Desenho de Experimentos), entre outros.

No quinto e último passo (verificar e padronizar e concluir/ controlar), a MASP objetiva verificar se as ações tomadas resultaram em ganhos de acordo com o planejado, de forma que seja possível padronizar o processo contra a reincidência destes problemas. O concluir refere-se à revisão do método utilizado, de forma que outras melhorias neste processo possam ser abordadas futuramente com mais clareza. E o DMAIC? Utiliza os mesmos critérios, usando normalmente além da POP os dispositivos Poka-Yoke e o CEP antes citados.

Concluindo…

A MASP tornou-se popularmente conhecida com o uso das habituais ferramentas da qualidade, como a técnica de brainstorming, o diagrama de Ishikawa, o gráfico de Pareto e o plano 5W2H. Enquanto que o DMAIC, além destas, ganhou notoriedade com o uso de várias técnicas derivadas do Lean, de várias ferramentas estatísticas derivadas do 6S e de 3 ferramentas tradicionais usadas pela qualidade automotiva: o CEP, a MSA e a FMEA.

Porém, como podemos ver hoje, apesar das duas metodologias seguirem praticamente os mesmos passos, a diferença entre elas está ligada as origens das ferramentas utilizadas em cada fase, e que não obrigatoriamente são aplicáveis em apenas um dos métodos. Portanto, não é um método ou outro que se produzirá melhores resultados, mas sim em quais (e quantas) ferramentas e técnicas você usará para solucionar o problema.

No próximo artigo, explicarei que não basta sair implantando projetos de melhoria aos montes. Foco é tão crucial quanto à assertividade dos projetos, e o Mapa Rodoviário de origem no Seis Sigma é usado pra isso, para melhor direcionar onde os reais ganhos se encontram.

Até o próximo,

Vinícius Silva (br.linkedin.com/in/engviniciussilva)