Tecnologia dedo-duro
“Pouca gente sabe e só os privilegiados vêem a guerra cibernética que se oculta na Fórmula 1. Travada dentro dos boxes, ela usa uma tecnologia que é tão aliada dos pilotos quanto indiscreta com eles. Um “dedo-duro”, definia Ayrton Senna. Uma técnica que monitora o piloto todo o tempo em que ele está na pista. Espiona tudo o que acontece com o carro e com o motor e registra os computadores dos boxes, via telemetria, dados exatos coletados a distância. Quando Ayrton Senna corria pela McLaren-Honda, eram doze computadores instalados no boxe com a função específica de analisar o desempenho de Senna.
Todas as reações do conjunto do protótipo são medidas com detalhes. Cada freada, acelerada, retomada de aceleração, a velocidade parcial ou final, nas retas, nas curvas, cada um desses itens tem seu código de registro anotado na tela dos computadores. Também o consumo, em qualquer situação de pista, e a variação de cada manobra e volta no circuito são arquivados automaticamente nas memórias eletrônicas.
Depois dos testes ou dos treinos, os engenheiros reúnem-se e analisam os acertos e as barbeiragens do piloto. Mostram, em complicados gráficos que mais parecem eletrocardiogramas, onde ele deve reduzir ou estender o ponto de frenagem, em que curvas tem que sair mais acelerado e em que trecho da pista é mais lento ou mais rápido que os adversários. O cruzamento dos dados fornece as referências para a corrida e determina o pit stop de reabastecimento de combustível e o de troca de pneus.
Enfim, o piloto incorpora um robô à sua inteligência e, sincronizados, ambos tornam-se parte de um carro com destino a um objetivo até hoje inatingido: a perfeição. Embora gênios com Ayrton Senna tenham chegado ao limiar disso.”
Esse é o texto do capítulo “Tecnologia Dedo-duro” do livro “Uma Estrela Chamada Senna”, escrito por Lemyr Martins. Para quem entende o conceito de MES, é praticamente impossível lê-lo sem fazer um vínculo mental, principalmente um fã de carteirinha do Senna.
O livro é extremamente recomendado para qualquer pessoa – acredito que não exista alguém que não é fã do Senna – e fala sobre sua infância, garra, interesse por mecânica e, principalmente, determinação para atingir a perfeição. É justamente visando atingir a perfeição que, já nos anos 80, equipes como a McLaren – equipe do Senna na ocasião – faziam uso de tecnologias que coletavam informações do desempenho do carro e do piloto durante as provas e testes.
O texto cita que cada movimento realizado durante a corrida era coletado e armazenado no computador para que os engenheiros analisassem, discutissem e tomassem decisões sobre o que precisava ser feito para melhorar o desempenho nas corridas, quais as orientações para o piloto e os ajustes necessários na máquina – exatamente o que um MES faz por uma indústria!
Mesmo quando o piloto (operadores) é bom, o carro (máquinas) é de ponta, ainda é possível extrair o máximo através do aumento da eficiência possibilitada pelo monitoramento. É o caminho mais indicado para se atingir a excelência e chegar próximo da perfeição.
Apesar de atuar como um “dedo-duro”, como o Ayrton Senna brincava, era esse “MES do automobilismo” que indicava quais eram as melhores coisas a ser feitas para obter o máximo em desempenho, e ele, como um piloto que beirava a perfeição, sabia do valor que isso lhe oferecia.
Excelente analogia. Acrescentando que a estrutura do carro, também está no sistema. Permitindo analisar a vida dos componentes, bem como identificar os componentes desgastados ou com defeitos e substituí-los.